quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Para atravessar Agosto...



"Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada PACIÊNCIA E FÉ. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro – e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. ESTE É UM PONTO IMPORTANTE: IR, SOBRETUDO, EM FRENTE.


Para atravessar agosto também é necessário reaprender a DORMIR, DORMIR MUITO, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles, se maus, fica a suspeita de sinistros angúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade...
[...]
...Para atravessar agosto ter um AMOR seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. QUE SE POSSA SONHAR, ISSO É QUE CONTA, COM MÃOS DADAS, SUSPIROS, JURAS, PROJETOS, ABRAÇOS NO CONVÉS À LUA CHEIA, BRILHOS NA COSTA AO LONGE. E BEIJOS, MUITOS. BEM MOLHADOS.

Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se, e TEMPERAR TUDO ISSO COM CHÁS, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, VINHOS, CONHAQUES – tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informações para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. APRENDER DECORAÇÃO, JARDINAGEM, IKEBANA, A ARTE DAS BANDEJAS DE ASAS DE BORBOLETAS – coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo, evasão, escapismos explícitos.

Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter demais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito, perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco:."

Caio Fernando Abreu (6/8/1995 para o Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO)

domingo, 22 de julho de 2012


“Primeira estrela que vejo, lembrei, realiza o meu desejo. Pedi sete vezes em voz alta, não havia ninguém por perto para olhar e talvez rir. Força e fé, que tinha perdido, eu pedi.”


domingo, 17 de junho de 2012

VERMELHO


'Gostar de ver você sorrir
Gastar das horas pra te ver dormir
Enquanto o mundo roda em vão
Eu tomo o tempo
O velho gasta solidão
Em meio aos pombos na Praça da Sé
O pôr do Sol invade o chão do apartamento
Vermelhos são seus beijos
Que meigos são seus olhos
Ver que tudo pode retroceder
Que aquele velho pode ser eu
No fundo da alma há solidão
E um frio que suplica um aconchego
Vermelhos são seus beijos
Quase que me queimam
Que meigo são seus olhos
Lânguida face
Seus beijos são vermelhos
Quase que me queimam
Que meigos são seus olhos
Lânguida face
Ver que tudo pode retroceder
Que aquele velho pode ser eu
No fundo da alma há solidão
E um frio que suplica um aconchego
Vermelhos são seus beijos
Quase que me queimam
Que meigos são seus olhos
Lânguida face
Seus beijos são vermelhos
Quase que me queimam
Que meigos são seus olhos
Lânguida face.'

sábado, 2 de junho de 2012

Ele pode estar olhando as suas fotos neste exato momento. Porque não? Passou-se muito tempo. Detalhes se perderam. E daí ? Pode ser que ele faça todas as coisas que você faz, escondida. Sem deixar rastro nem pistas. Talvez ele passe a mão na barba mal feita e sinta saudade do quanto você gostava disso. Ou percorra trajetos que eram seus, na tentativa de não deixar que você se disperse das lembranças. As boas. Por escolha ou fatalidade, pouco importa, ele pode pensar em você . Todos os dias. E ainda assim preferir o silêncio. Ele pode reler seus bilhetes, procurar o seu cheiro em outros cheiros. Ele pode ouvir as suas músicas, procurar a sua voz em outras vozes. Quem nos faz falta acerta o coração como um vento súbito que entra pela janela aberta. Não há escape! Talvez ele perceba que você faz falta. E diferença. De alguma forma, numa noite fria. Você não sabe. Ele pode ser o cara com quem passará aquele tão sonhado verão em Paris . Talvez ele volte. Ou não.

[Caio F. Abreu]
De repente, estou só. Dentro do parque, dentro do bairro, dentro da cidade, dentro do estado, dentro do país, dentro do continente, dentro do hemisfério, do planeta, do sistema solar, da galáxia — dentro do universo, eu estou só. De repente. Com a mesma intensidade estou em mim. Dentro de mim e ao mesmo tempo de outras coisas, numa sequência infinita que poderia me fazer sentir grão de areia. Mas estar dentro de mim é muito vasto. (Caio F. Abreu)


quarta-feira, 30 de maio de 2012

“Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte dovôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono podelevá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo,isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado”.

Rubem Alves

Um pouco de silêncio - Lya Luft

Nesta trepidante cultura nossa, da agitação e do barulho, gostar de sossego é uma excentricidade.

Sob a pressão do ter de parecer, ter de participar, ter de adquirir, ter de qualquer coisa, assumimos uma infinidade de obrigações. Muitas desnecessárias, outras impossíveis, algumas que não combinam conosco nem nos interessam.

Não há perdão nem amnistia para os que ficam de fora da ciranda: os que não se submetem mas questionam, os que pagam o preço da sua relativa autonomia, os que não se deixam escravizar, pelo menos sem alguma resistência.

O normal é ser atualizado, produtivo e bem informado. É indispensável circular, ser bem-relacionado. Quem não corre com a manada, praticamente nem existe. Se não tomar cuidado, põem-no numa jaula: um animal estranho.

Pressionados pelo relógio, pelos compromissos, pela opinião alheia, disparamos sem rumo – ou por trilhos determinados – como hamsteres que se alimentam da sua própria agitação.

Ficar sossegado é perigoso: pode parecer doença. Recolher-se em casa ou dentro de si mesmo ameaça quem apanha um susto de cada vez que examina a sua alma.

Estar sozinho é considerado humilhante, sinal de que não «se arranjou» ninguém – como se a amizade ou o amor se «arranjasse» numa loja.

Além do desgosto pela solidão, temos horror à quietude. Pensamos logo em depressão: quem sabe terapia e antidepressivos? Uma criança que não brinca ou salta ou participa de actividades frenéticas está com algum problema.

O silêncio assusta-nos por retumbar no vazio dentro de nós. Quando nada se move nem faz barulho, notamos as frestas pelas quais nos espiam coisas incómodas e mal-resolvidas, ou se observa outro ângulo de nós mesmos. Damo-nos conta de que não somos apenas figurinhas atarantadas correndo entre a casa, o trabalho e o bar, a praia ou o campo.

Existe em nós, geralmente nem percebido e nada valorizado, algo para além desse que paga contas, faz amor, ganha dinheiro, e come, envelhece, e um dia (mas isso é só para os outros!) vai morrer. Quem é esse que afinal sou eu? Quais os seus desejos e medos, os seus projetos e sonhos?

No susto que essa ideia provoca, queremos ruído, ruídos. Chegamos a casa e ligamos a televisão antes de largarmos a carteira ou a pasta. Não é para assistirmos a um programa: é pela distração.

O silêncio faz pensar, remexe águas paradas, trazendo à tona sabe Deus que desconcerto nosso. Com medo de vermos quem – ou o que – somos, adiamos o confronto com a nossa alma sem máscaras.

Mas, se aprendermos a gostar um pouco de sossego, descobrimos – em nós e no outro – regiões nem imaginadas, questões fascinantes e não necessariamente negativas.

Nunca esqueci a experiência de quando alguém me pôs a mão no meu ombro de criança e disse:

— Fica quietinha um momento só, escuta a chuva a chegar.

E ela chegou: intensa e lenta, tornando tudo singularmente novo. A quietude pode ser como essa chuva: nela nos refazemos para voltarmos mais inteiros ao convívio, às tantas frases, às tarefas, aos amores.

Então, por favor, dêem-me isso: um pouco de silêncio bom, para que eu escute o vento nas folhas, a chuva nas lajes, e tudo o que fala muito para além das palavras de todos os textos e da música de todos os sentimentos.

Lya LuftPensar é transgredir
Lisboa, Presença, 2005

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Pontes ou cercas?

Dani Felippe: Pontes ou cercas?: Dois  irmãos  que  moravam  em  fazendas vizinhas, separadas apenas por um riacho,  entraram em conflito. Foi a primeira grande desavença ...

O espaço de silêncio Interior

Dani Felippe: O espaço de silêncio Interior: Tenho observado com freqüência pessoas que sofrem porque outras as dirigem. Sua autoconfiança, tirada pelos outros, não se desenvolve....

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Como uma luva...

"Você sabe que de alguma maneira a coisa esteve ali, bem próxima. Que você podia tê-la tocado. Você poderia tê-la apanhado. No ar, que nem uma fruta. Aí volta o soco. E sem entender, você então pára e pergunta alguma coisa assim: mas de quem foi o erro?


(...)


Você vai perguntar: mas houve o erro? Bem, não sei se a palavra exata é essa, erro. Mas estava ali, tão completamente ali, você me entende? No segundo seguinte, você ia tocá-la, você ia tê-la. Era tão. Tão imediata. Tão agora. Tão já. E não era. Meu Deus, não era. Foi você que errou? Foi você que não soube fazer o movimento correto? O movimento perfeito, tinha que ser um movimento perfeito. Talvez tenha mostrado demasiada ansiedade, eu penso. E a coisa se assustou então. Como se fosse uma coisa madura, à espera de ser colhida. É assim que eu vejo ela, às vezes. Como uma coisa parada, à espera de ser colhida por alguém que é exatamente você.


(...)


O erro? Eu dizia, pois é, o erro. Eu penso, se o erro não foi de dentro, mas de fora? Se o erro não foi seu, mas da coisa? Se foi ela quem não soube estar pronta? Que não captou, que não conseguiu captar essa hora exata, perfeita, de estar pronta. Porque assim como o movimento de apanhar deve ser perfeito, deve ser perfeita também a falta de movimento, a aparente falta de movimento do que se deixa apanhar. Você me entende?"

[CAIO F. ABREU]

quarta-feira, 2 de maio de 2012


"Eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas as coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas..."

segunda-feira, 23 de abril de 2012

'Eu pedi a Ogum, para retirar os meus vícios.
Ogum disse: Não!
Eles não são para eu tirar, mas para você desistir deles.
Eu pedi a Ogum , para fazer meu filho aleijado se tornar completo.
Ogum disse: Não!
Seu espírito é completo, seu corpo é apenas temporário
Eu pedi a Ogum para me dar paciência.
Ogum disse, Não...!
Paciência é um subproduto das tribulações; Ela não é dada, é aprendida.
Eu pedi a Ogum para me dar felicidade.
Ogum disse: Não!
Eu dou bênçãos; Felicidade depende de você.
Eu pedi a Ogum para me livrar da dor.
Ogum disse: Não!
Sofrer te leva para longe do mundo e te traz para perto de mim.
Eu pedi a Ogum para fazer meu espírito crescer.
Ogum disse: Não!
Você deve crescer em si próprio! Mas eu te podarei para que dês frutos.
Eu pedi a Ogum todas as coisas que me fariam apreciar a vida.
Ogum disse: Não!
Eu te darei a vida, para que você aprecie todas as coisas.
Eu pedi a Ogum para me ajudar a AMAR os outros, como Ele me ama.
Ogum disse: Ah, finalmente você entendeu a idéia.. Muita Luz!
Ogunhê.'

E viva Jorge, salve Jorge! 23 de Abril.


Como ele, devemos permanecer fortes e corajosos, independentes dos desafios que a vida nos traga. Assim, como Jorge, havemos de vencer.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

O Tempo
A gente se deu tão bem
Que o tempo sentiu inveja
Ele ficou zangado e decidiu
Que era melhor ser mais veloz
E passar rápido pra mim
Parece que até jantei
Com toda a família e sei
Que seu avô gosta de discutir
E sua avó gosta de ouvir
Você dizer que vai fazer
O tempo engatinhar
Do jeito que eu sempre quis
Se não for devagar
Que ao menos seja eterno assim Espero o dia que vem
Pra ver se te vejo
E faço o tempo esperar como esperei
A eternidade se passar
Nos meus segundos sem você
Agora eu já nem sei
Se hoje foi anteontem
Eu me perdi lembrando o teu olhar
O meu futuro é esperar
Pelo presente de fazer
O tempo engatinhar
Do jeito que eu sempre quis
Distante é devagar
Perto passa bem depressa assim
Pra mim, pra mim

Se o tempo se abrir talvez
Entenda a razão de ser
De não querer sentar pra discutir
De fazer birra toda vez
Que peço ao tempo pra me ouvir
A gente se deu tão bem
Que o tempo sentiu inveja
Ele ficou zangado e decidiu
Que era melhor ser mais veloz
E passar rápido pra mim

Eu que nunca discuti o amor
Não vejo como me render
Ah! Será que o tempo tem tempo pra amar ou só me quer tão só?
E então, se tudo passa em branco eu vou pesar

A cor da minha angústia e no olhar
Saber que o tempo vai ter que esperar
O tempo engatinhar

Do jeito que eu sempre quis
Se não for devagar
Que ao menos seja eterno assim'
(Moveis Coloniais de Acaju)

terça-feira, 17 de abril de 2012

- Por José Saramago

[Um grande presente de minha mãe nessa noite]

                                                        A MAIOR FLOR DO MUNDO



- E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos?
- Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar?

[José Saramago]

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Não foi desejo. Nem vontade, nem curiosidade, nem nada disso. Foi um choque elétrico meio que de surpresa, desses que te deixa com o corpo arrepiado, coração batendo acelerado e cabelo em pé . Foi sentimento . Não foi planejado, nem premeditado. Foi só um querer estar perto e cuidar [...] A vontade e o desejo vieram depois, bem depois. Não foi um lance de corpo, foi um lance de alma. Não foram os olhos, nem os sorrisos, nem o jeito de andar ou de se vestir, foram as palavras. Uma saudade e uma urgência daquilo que nunca se teve, mas era como se já tivesse tido antes. Foi amor. É amor. 

Caio F. Abreu

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Um rascunho

Noites em sakubivaki
Te amar até mais tarde, te emprestar meu anorak
Lamber os dedos de chocolate
Chegar perto de realizar
Descobrir o valor do quase
Se dar ao luxo de se emocionar
Por qualquer bobagem
Adormecer na sala
Você me levar pra cama
Colecionar os seus bilhetes
Te enviar um telegrama
Te buscar no aeroporto
Você deixar cair as malas, pra abraçar o meu corpo
Te beijar enquanto fala.
E eu parar o meu carro,
na cabeceira da lua
roubar de um pé uma flor, e faze-la, ficar sendo sua
Prolongar a viagem, prestar atenção na paisagem
te dar comida na boca
esbanjando paixão muito louca
Me mal acostumar demais
ao bem que você me faz
Reler um glossário,
anotar as datas, ter um diário
Adormecer na sala
Você me levar pra cama
Colecionar os seus bilhetes
Perguntar se ainda me ama
Te buscar no aeroporto
Você deixar cair as malas, pra abraçar o meu corpo
Te beijar enquanto fala.
E eu parar o meu carro,
na cabeceira da lua
roubar de um pé uma flor, e faze-la, ficar sendo sua
Prolongar a viagem, prestar atenção na paisagem
te dar comida na boca
esbanjando paixão muito louca
Me mal acostumar demais
ao amor que a gente faz
Reler um glossário,
anotar as datas, ter um diário
Ter um diário, anotar as datas, reler o glossário.
De repente ter vergonha,
não ter muita certeza,
nunca mais conseguir fazer igual,
pra poder virar proeza, acho que só.

(Helena Elis)

quinta-feira, 12 de abril de 2012

sexta-feira, 6 de abril de 2012

"Veio sem manual, essa porra! Eu fico revirando a vida de ponta-cabeça pra ver se entendo seu funcionamento, mas ela parece um cubo mágico cheio de faces ocultas que escapam à compreensão e ultrapassam a minha capacidade de sentir as coisas. E os dias não param de acontecer! Na falta do guia de instruções, eu vou tentando encaixar as peças conforme tamanho e cor…querendo dar alguma utilidade ao meu raciocínio lógico: “Se eu  for por aqui, vai dar ali! Se eu tentar isso, vai dar naquilo e vou sair acolá”. Conjecturas balzaquianas? Sartrianas talvez! Preciso chegar, mas me faltam mapas, placas, setas indicativas! A vida é uma ilha que se desloca bem debaixo dos nossos pés! Quando ela se movimenta bruscamente, eu caio na água! Tchibum!! Se tem uma coisa que nunca me faltou foi coragem pra sobreviver! Então, me reviro de ponta-cabeça, entendo meu funcionamento e considero minhas opções: posso me afogar ranzinzando a falta da porra do manual ou bater pernas e nadar para alcançar alguma nova margem brevemente romanceada no tempo e no espaço dos dias que não param de acontecer."
.


sábado, 31 de março de 2012

Edição do dia 30/03/2012
31/03/2012 00h41 - Atualizado em 31/03/2012 01h00  - Jornal da Globo

Disco Clube da Esquina faz 40 anos

Um dos discos mais importantes da Música Popular Brasileira nasceu de um grupo de músicos bem sucedidos, e que tinham quase vergonha de dizer que gostavam também de rock. O Clube da Esquina está comemorando 40 anos e marca o feliz encontro de jovens compositores e músicos dedicados a Milton Nascimento e com o rock dos Beatles.

De uma turma de amigos, que se encontrava numa esquina de Belo Horizonte para tocar violão e jogar conversa fora, nasceu um dos discos mais importantes da música brasileira. O Clube da Esquina está comemorando 40 anos e marca o encontro de Milton Nascimento com jovens compositores e letristas mineiros que adoravam MPB, mas também eram loucos pelos Beatles.

Num tempo de radicalização política, quem fazia MPB era considerado traidor se gostasse de rock. Milton já era um nome consagrado desde o sucesso de "Travessia", mas gostava do rock melodioso dos Beatles. No seu disco de 1970, com sua banda elétrica 'Som Imaginário', já mostrava o caminho da esquina.
Lô Borges tinha 17 anos quando fez para ‘Lennon e McCartney’ e 19 anos quando gravou clássicos do Clube da Esquina como ‘Nuvem Cigana’, ‘Tudo que você podia ser’ e ‘Paisagem na janela’.

Com letras amorosas, existenciais e políticas de Márcio Borges, Fernando Brant e Ronaldo Bastos, Lô criou as canções que Milton cantou com arranjos Wagner Tiso e a guitarra de Toninho Horta.
Em parceria com Ronaldo Bastos, mineiro de Niterói, Milton compôs para o Clube da Esquina algumas de suas melhores músicas, como ‘Cais’, a festiva ‘Cravo e Canela’ e o futuro clássico ‘Nada será como antes’.

Em contraste com o também histórico ‘Acabou Chorare’ dos Novos Baianos, com o encontro entre o rock pesado, o samba e o choro, o Clube da Esquina tem a introspecção montanhesa dos mineiros, com melodias elaboradas, harmonias complexas e letras densas e engajadas.

São dois grandes disco que se complementam e marcam a integração da música brasileira com o rock internacional. Várias canções do Clube da Esquina se tornaram são clássicos da MPB e continuam sendo tocadas nos shows, nos barzinhos e nas salas de concerto.

Milton Nascimento é uma estrela internacional, todos os seus integrantes se tornaram grandes compositores e letristas, e o rock mineiro virou um gênero popular dentro da música brasileira.





"Coisas que o vento vem as vezes me lembrar
Coisas que ficaram muito tempo por dizer
Na canção do vento não se cansam de voar"


A escuridão ofusca o que não ouso ver. Momentos nem sempre fáceis costumam retornar, brincando com meus pensamentos e sentimentos. Cutucando-os com vara curta. Nem sempre é fácil enfrentar o que nos atinge minutos antes do sono chegar para acalentar. Noites são levemente mais difíceis quando os dias não favorecem, mas como tudo na vida, podem ser fáceis quando vistas de outra maneira. Noite estrel...ada e fria. Me traz um vagalume que proporciona luz (que se apresenta de tantas formas.) Ele dança em frente a minha varanda, em frente ao quintal da minha alma. Enquanto observo seus gestos delicados, quase esqueço que é noite, quase esqueço de meus problemas, quase esqueço... O que salva à noite são as estrelas. E o luar. E o vagalume que sempre dança na minha janela.

[Noemyr Gonçalves]


sexta-feira, 16 de março de 2012


"Eu queria te contar que não dói mais. Só que agora não importa tanto o que você vai pensar sobre isso. Queria que você soubesse que já vi nossos filmes milhares de vezes e nem chorei. Ok, chorei. mas pelo filme, e não por você. Queria que você soubesse que tirei a poeira das nossas músicas, e que as ouço quase todos os dias. Porque elas me faziam mais falta do que você fez. Os nossos lugares não são mais nossos. Eu já voltei lá com outras pessoas, e escrevi lá outras histórias, eu estou aprendendo a tocar violão. E a primeira música que toquei foi aquela música que era uma espécie de hino pra nós dois. Ela é tão linda... e sim, ela continua sendo muito nossa e lembrando demais você. Mas ainda sim, não dói. Você não pergunta essas coisas, mas sei que gostaria de saber. Porque te conheço. E isso não mudou. Do mesmo jeito que adivinhei as coisas ruins que você aprontaria, eu sei as coisas boas que ficaram aí em você e te fazem lembrar de mim. Porque a vida segue. Mas o que foi bonito fica com toda a força. Mesmo que a gente tente apagar com outras coisas bonitas ou leves, certos momentos nem o tempo apaga. E a gente lembra. E já não dói mais. mas dá saudade. Uma saudade que faz os olhos brilharem por alguns segundos e um sorriso escapar volta e meia, quando a cabeça insiste em trazer a tona, o que o coração vive tentando deixar pra trás. Confesso que me dá uma saudade irracional de você. E tenho vontade de voltar atrás, de ligar, de te dizer mil coisas, e cair em suas mãos, sem me importar com nada, simplesmente te entregar meu coração. Mas não, renuncio, me controlo e digo para mim mesmo que não é assim, que não pode ser, que você se foi e não volta."

 CAIO F. ABREU

quarta-feira, 7 de março de 2012

''Eu sonhei que estava exatamente aqui, olhando pra você
Olhando pra você exatamente aqui
'cê não sabe mais eu tava exatamente aqui, olhando pra você
'cê não sabe mais eu tava exatamente aqui
Pronto para despertar
Prestes mesmo de explodir
Parto para não voltar
Pranto para estancar
Muito para acordar
Tonto de tanto te ver
Perto mesmo de explodir
Prestes a saber porque
Por que o sol se vai?
Por que um raio cai?
Se a nuvem vem também
Por que você não vem?'' (Marcelo Jeneci)

sábado, 3 de março de 2012



“Ninguém entra num mesmo rio uma segunda vez, pois quando isso acontece já não se é o mesmo, assim como as águas, que já serão outras. O fluxo eterno das coisas é a própria essência do mundo.” - Heráclito de Éfeso (Filósofo Grego séc. V a.C). 

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

“Atrasos do acaso
cuidados
que não quero mais
o que era pra vir
veio tarde
e essa tarde não sabe
do que o acaso é capaz.”

[Paulo Leminski]

sábado, 25 de fevereiro de 2012

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

'O amor precisa da sorte
De um trato certo com o tempo
Pra que o momento do encontro seja pra dois o exato momento
O amor precisa de sol
E do barulho da chuva
De beijos desesperados
De sonhos trocados da ausência de culpa...'

[Exato Momento - Zé Ricardo]

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

"Eu não estou me reconhecendo, mas estou me observando. Não estou alegre como de costume, mas também não estou triste. Contemplar o coração também é uma estrada que deve dar em algum lugar melhor."
 
 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

[...]

 

"Achei um pouquinho mágico, mágico suave, você sabe - nós ali, lado a lado, falando
praticamente das mesmas coisas."

[Caio Fernando Abreu]

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

'Vim aqui me buscar, com medo e coragem. Com toda a entrega que me era possível. Com a humildade de quem descobre se conhecer menos do que supunha e com o claro propósito de se conhecer mais. Vim aqui me buscar para varrer entulhos. Passar a limpo alguns rascunhos. Resgatar o viço do olhar. Trocar de bem com a vida. Rir com Deus, outra vez. Vim aqui me buscar para não me contentar com a mesmice. Para dizer minhas flores. Para não me surpreender ao me flagrar feliz. Para ser parecida comigo. Para me sentir em casa, de novo.' (A.J.)